Cirurgias agonizantes, médicos que passavam o dia cobertos
de sangue e infecções incuráveis. Antes da invenção da anestesia e dos
antissépticos, há quase 200 anos, entrar num hospital era praticamente selar
seu destino com a morte. Explore algumas das histórias dessa época sombria e
como a medicina começou a evoluir a partir daí.
Em 21 de dezembro de 1846, a medicina estava prestes a mudar para sempre. O anfiteatro cirúrgico do University College Hospital de Londres estava abarrotado de pessoas, esbarrando umas nas outras sob um calor infernal, apesar do inverno. O odor fétido permeava o ambiente, evidenciando o local de carnificinas anteriores.
À sua frente, uma mesa de madeira no
centro do aposento exibia manchas reveladoras dos procedimentos passados. O
chão estava coberto de serragem, pronta para absorver o sangue de mais uma
amputação. O paciente, aflito e apavorado, era colocado sobre a mesa enquanto o
cirurgião se preparava com sua serra – sem anestesia. Os cirurgiões da época
eram mais parecidos com açougueiros; a profissão estava longe de ter o
prestígio que tem hoje.
Muitos cirurgiões eram analfabetos, e manejar um bisturi não era uma habilidade cobiçada. Gritos horripilantes dos pacientes, debatendo-se na mesa, ecoavam pelo anfiteatro, causando pânico em alguns e fascínio em outros. Entre eles, destacava-se Robert Liston, o mais famoso cirurgião da época.
Nascido em 1794, na Escócia, Liston era um
prodígio. Começou a estudar medicina aos 14 anos e, aos 22, já dava aulas de
anatomia. Com seus 1,90 m de altura e força notável, ele conseguia amputar uma
perna em apenas dois minutos e meio. Em procedimentos menores, terminava em
meros 30 segundos. Sua rapidez era uma forma de minimizar o sofrimento, dado
que anestesias eficazes ainda não existiam.
Suas cirurgias express, por vezes feitas em
anfiteatros, costumavam reunir dezenas de pessoas, entre estudantes, outros
professores e curiosos. “Marquem o tempo, senhores” era o que ele costumava
dizer antes de passar a faca em alguém. Ele chegou a construir a própria faca
de amputação, composta por uma lâmina mais comprida que a média e um cabo de
madeira com pequenos entalhes (um para cada cirurgia feita).
Liston mantinha seus bisturis aquecidos sob a
manga e preferia usar as mãos para manejar artérias e pele ao invés dos
equipamentos. E a faca? Ele a segurava com a boca. Em sua
carreira, contudo, acidentes não eram raros.
Certa vez, ao amputar uma perna, ele acabou
cortando também um dos testículos do paciente. Em outra amputação, cortou
acidentalmente três dedos de um assistente que segurava a perna do enfermo.
Nessa mesma cirurgia, Liston, ao trocar rapidamente de instrumentos, rasgar o
paletó de um espectador, causou um choque fatal. O infeliz achou que havia sido
esfaqueado e caiu duro no chão. Liston, sem intenção, acabou por matar três
pessoas de uma vez.
Apesar dos riscos, Liston fez contribuições
significativas para a medicina. Inventou a pinça bulldog, usada até hoje para
controlar o fluxo sanguíneo, e uma tala para fraturas no fêmur. Em 1846,
foi escolhido para realizar a primeira cirurgia com anestésicos modernos na
Inglaterra.
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transporte-se para um tempo em que os hospitais eram sinônimos de casas da
morte.