Semmelweis notou que na ala A, os partos eram assistidos
por médicos e estudantes de medicina que, frequentemente, vinham direto do
necrotério, onde manipulavam cadáveres. Em contraste, na ala B, as pacientes
eram atendidas por parteiras que não tinham contato com corpos mortos. Embora
Semmelweis ainda não soubesse da existência dos micróbios, ele supôs que os
médicos estavam de alguma forma transferindo "partículas cadavéricas"
para as mulheres.
Para testar sua teoria, Semmelweis ordenou que todos os
funcionários começassem a lavar as mãos com uma solução de cal clorada antes de
atenderem as pacientes. O resultado foi impressionante: as taxas de infecção e
mortalidade na ala A diminuíram drasticamente. No entanto, a comunidade médica
da época estava presa a paradigmas antigos e rejeitou suas descobertas. Ignaz
foi demitido e passou o resto de sua vida lutando para que suas ideias fossem
aceitas, publicando seus resultados em 1861, apenas para morrer quatro anos
depois, ainda desacreditado por muitos.
Foi apenas na segunda metade do século XIX que a teoria dos
germes ganhou força, graças ao trabalho pioneiro de Louis Pasteur. Pasteur, um
cientista francês, demonstrou que microrganismos invisíveis estavam por toda
parte e eram responsáveis por doenças e pela deterioração dos alimentos. Ele
desenvolveu o processo de pasteurização, que envolve aquecer líquidos para
matar bactérias prejudiciais, aumentando a vida útil dos alimentos.
A teoria dos germes inspirou muitos outros cientistas e
médicos. Um deles foi Joseph Lister, um cirurgião britânico que dava aulas em
Glasgow, na Escócia. Fascinado por microscópios, um interesse que herdou de seu
pai, Lister observou que fraturas expostas, onde os ossos atravessavam a pele,
tinham uma taxa de infecção muito maior do que fraturas fechadas. "A causa
deve ser algo no ar", concluiu Lister.
Determinando encontrar uma maneira de prevenir essas
infecções, Lister começou a experimentar com desinfetantes. Em 1865, ele
aplicou uma solução diluída de fenol, um químico usado para tratar esgotos, em
suas práticas cirúrgicas. Ele desinfetava mãos, instrumentos, feridas e
curativos com esta solução, o que resultou em uma redução significativa das
infecções pós-operatórias.
A introdução do primeiro antisséptico por Lister
transformou a prática cirúrgica. Ele estabeleceu protocolos rigorosos de
higiene, desenvolveu sabonetes e sprays desinfetantes, e suas práticas
começaram a ser adotadas mundialmente, marcando o início de uma era mais segura
na medicina.
A jornada desde a intuição inicial de Semmelweis até a
aceitação global da teoria dos germes e a implementação de práticas
antissépticas foi longa e árdua. No entanto, esses pioneiros da revolução
sanitária salvaram incontáveis vidas, lançando as bases para os avanços médicos
modernos. Hoje, lavar as mãos é uma prática padrão que previne inúmeras
doenças, um legado direto das descobertas corajosas de Semmelweis e seus
sucessores.